Após o silêncio durante os cinco dias do mais extenso período de cessar-fogo desde o início da guerra, hoje os ataques recomeçaram. De um lado, o Hamas lançou mísseis na direção das regiões sul e central de Israel. Moradores de Beer Sheva a Tel Aviv, passando por Jerusalém foram alertados a procurar abrigos seguros. As explosões do sistema anti-mísseis conhecido como o Domo de Ferro, a grande vedete da guerra até o momento, foram ouvidas em Dura, cidade da Cisjordânia perto de Hebron, e que não conta com nenhum sistema de proteção. Do outro lado, o exército israelense tornou a bombardear a faixa de Gaza, mais uma vez castigando a população, parte da qual teve a vida reduzida a ruínas.
Tão logo os primeiros mísseis foram lançados na direção de Israel, as redes sociais começaram a se movimentar. Minha linha do tempo no Facebook foi gradualmente tomada por mensagens de amigos que relatavam seu medo, seus passos e sua exaustão. Se por um lado, eu já organizara minha rede de contatos de modo a me preservar das tonalidades acusatórias mais acaloradas, por outro, o espaço dedicado ao cuidado com aqueles que buscavam o diálogo se expandiu. Desde os primeiros indícios da retomada da guerra, tive o cuidado de publicar, tanto em minha linha do tempo como em um grupo que administro, mensagens de apoio e acolhimento aos amigos dos dois lados do combate.
Hoje, os primeiros depoimentos vieram daqueles que vivem na região fronteiriça à Faixa de Gaza, seguidos pelos dos moradores de Tel Aviv e arredores, e finalmente dos de Jerusalém. Me comuniquei em mensagens privadas com alguns deles enquanto estavam em abrigos e buscavam não transparecer a ansiedade. Mas já estavam cansados, exaustos depois de mais de um mês sob a tensão que não conseguiam disfarçar. O cessar-fogo e as negociações no Cairo haviam gerado alguma esperança mesmo que remota, de que finalmente se iniciasse um processo de paz marcado por acordos políticos e não mais pela violência. Durante os dias de calmaria, grupos de árabes e judeus israelenses foram às ruas para manifestar seu repúdio à guerra: “árabes e judeus se recusam a ser inimigos” foi o slogan mais ouvido, chegando a levar 15.000 pessoas à Praça Rabin em Tel Aviv no último sábado, somando imagens nas redes sociais, àquelas estampadas horas antes das praias lotadas em um belo dia de verão, e que eu havia observado com o coração apertado, um pouco pelo medo da impermanência, e muito pelo pensamento na população de Gaza que naquele momento tentava recolher corpos sob os escombros.
As primeiras mensagens traziam em si o tom do desabafo: “tenho medo, isto nunca vai acabar”, diziam as entrelinhas. Mas, rapidamente as manifestações de preocupação com os amigos do outro lado da linha de fogo começaram a surgir, em uníssono com as de amigos brasileiros, distantes do conflito e que, cientes do cuidado de minhas manifestações, passaram a seguir minhas mensagens, assim como eu seguia as daqueles em quem confiava. Rudimentos de paz? Estamos clamando pelo mesmo conceito, ou nos apegamos a simbolismos genéricos que aplacam a nossa sede imediatista por fórmulas prontas?
Neste momento prefiro não me fixar à necessidade em obter estas respostas, mas sim em aceitar como absolutamente legítimas e belas as manifestações que testemunho, como a da garota de Gaza, que ao mesmo tempo em que escutava o som dos bombardeios inimigos em sua cidade, nos chamava em nosso grupo fechado a celebrar sua graduação na faculdade local, e que há cerca de apenas uma semana manifestara sua admiração em conversar comigo, a primeira mulher judia com quem ela jamais falara em toda a sua vida.
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